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METADE

Oswaldo Montenegro
 
E que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que sei.
 
Que a morte de tudo que acredito
não me tape os ouvidos e a boca,
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
 
Que a música que eu ouço ao longe seja linda
ainda que tristeza
 
Que a mulher que eu amo seja para sempre amada,
mesmo que distante,
porque metade de mim é partida
e a outra metade é saudade
 
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas
como prece, nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas, como a úncia coisa que resta
a um homem inundado de sentimento…
porque metade de mim é o que eu ouço,
mas a outra metade é o que calo
 
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
 
Que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada,
porque metade de mim é o que eu penso
e a outra metade é um vulcão
 
Que o medo da solidão se afaste,
que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável
 
Que o espelho ao refletir meu rosto
um doce sorriso que me lembra a verdade da face
porque metade de mim é a lembrança do que foi,
a outra metade, eu não sei
 
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
 
E que o teu silêncio me fale cada vez mais,
porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço
 
Que a arte aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
pra fazê-la florescer
porque metade de mim é a platéia
e a outra metade é canção
 
E que a minha loucura seja perdoada,
porque metade de mim é amor,
e a outra metade… também.

 

POEMA DE ALBERTO CAEIRO, UM DOS HETERÔNIMOS DO POETA  FERANANDO PESSOA
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança que, se ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo.
Caeiro/Pessoa une duas palavras que normalmente estão separadas e mesmo em oposição – eterna e novidade -, pois o eterno é o que, fora do tempo, permanece sempre idêntico a si mesmo, enquanto o novo é pura temporalidade, o tempo como movimento e inquietação que diferencia-se de si mesmo. no entanto, essa unidade do eterno e do novo, aparentemente impossível, realiza-se pelos e para os humanos. Chama-se ARTE.
Fonte: CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo, editora Ática, 1995 p.314.

Etre jeune

La jeunesse n’est pas une période de la vie, elle est un état d’esprit, un effet de la volonté, une qualité de l’imagination, une intensité émotive, une victoire du courage sur la timidité, du goût de l’aventure sur l’amour du confort.

On ne devient pas vieux pour avoir vécu un certain nombre d’années, on devient vieux parce qu’on a déserté son idéal. Les années rident la peau, renoncer à son idéal ride l’âme. Les préoccupations, les doutes, les craintes et les désespoirs sont les ennemis qui lentement nous font pencher vers la terre et devenir poussière avant la mort.

Jeune est celui qui s’étonne et s’émerveille. Il demande comme l’enfant insatiable. Et après? Il défie les événements, et trouve de la joie au jeu de la vie.

Vous êtes aussi jeune que votre foi. Aussi vieux que votre doute. Aussi jeune que votre espoir. Aussi vieux que votre abattement.

Vous resterez jeune tant que vous resterez réceptif. Réceptif à ce qui est beau, bon et grand. Réceptif aux messages de la nature, de l’homme et de l’infini.

Si un jour votre cœur allait être mordu par le pessimisme et rongé par le cynisme, puisse Dieu avoir pitié de votre âme de vieillard.

Texte de Samuel Ullmann,
cité par le Général McArthur

 

Si tu peux voir détruit l’ouvrage de ta vie
Et sans dire un seul mot te mettre à rebâtir
Ou perdre d’un seul coup le gain de cent parties
Sans un geste et sans un soupir,
Si tu peux être amant sans être fou d’amour ;
Si tu peux être fort sans cesser d’être tendre
Et te sentant haï, sans haïr à ton tour,
Pourtant lutter et te défendre ;

Si tu peux supporter d’entendre tes paroles
Travesties par des gueux pour exciter les sots
Et entendre mentir sur toi leurs bouches folles
Sans mentir toi-même d’un mot ;
Si tu peux rester
digne en étant populaire,
Si tu peux rester peuple en conseillant les Rois
Et si tu peux aimer tous tes amis en frères,
Sans qu’aucun d’eux soit tout pour toi ;

Si tu sais méditer, observer et connaître,
Sans jamais devenir sceptique ou destructeur
Rêver, mais sans laisser ton rêve être ton maître,
Penser, sans n’être qu’un penseur ;
Si tu peux être dur sans jamais être en rage,
Si tu peux être brave et jamais imprudent,
Si tu peux être bon, si tu veux être sage,
Sans être moral ni pédant ;

Si tu peux rencontrer triomphe après défaite
Et recevoir ces deux menteurs d’un même front
Si tu peux conserver ton courage et ta tête
Quand tous les autres les perdront ;
Alors les Rois, les Dieux, la Chance et la Victoire
Seront à tout jamais tes esclaves soumis
Et, ce qui vaut bien mieux que les Rois et la Gloire.

Tu seras un homme mon fils.

Kipling

Gracias a la vida (Violeta Parra) Gracias a la vida que me ha dado tanto. Me dio dos luceros que, cuando los abro, perfecto distingo lo negro del blanco, y en el alto cielo su fondo estrellado y en las multitudes el hombre que yo amo. Gracias a la vida que me ha dado tanto. Me ha dado el oído que, en todo su ancho, graba noche y día grillos y canarios; martillos, turbinas, ladridos, chubascos, y la voz tan tierna de mi bien amado. Gracias a la vida que me ha dado tanto. Me ha dado el sonido y el abecedario, con él las palabras que pienso y declaro: madre, amigo, hermano, y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando. Gracias a la vida que me ha dado tanto. Me ha dado la marcha de mis pies cansados; con ellos anduve ciudades y charcos, playas y desiertos, montañas y llanos, y la casa tuya, tu calle y tu patio. Gracias a la vida que me ha dado tanto. Me dio el corazón que agita su marco cuando miro el fruto del cerebro humano; cuando miro el bueno tan lejos del malo, cuando miro el fondo de tus ojos claros. Gracias a la vida que me ha dado tanto. Me ha dado la risa y me ha dado el llanto. Así yo distingo dicha de quebranto, los dos materiales que forman mi canto, y el canto de ustedes que es el mismo canto y el canto de todos, que es mi propio canto. Gracias a la vida que me ha dado tanto. (1964-1965)
Fragmentos poéticos de Fernando Pessoa:
4. “Minhas mesmas emoções / são coisas que me acontecem.”
5. “Tenho esperança? não tenho. / Tenho vontade de a ter? / Não sei, ignoro a que venho, / quero dormir e esquecer.”
6. Eu tenho ideias e razões, / conheço a cor dos argumentos / e nunca chego aos corações.”
7. Tudo quanto penso, / tudo quanto sou / é um deserto imenso / onde nem eu estou.”
8. “Estou hoje perplexo / como quem pensou / e achou / e esqueceu.”
9. ” Aquele peso em mim – meu coração.”
10.”Ah! quanta melancolia! / quanta, quanta solidão! / aquela alma, que vazia, / que sinto inútil e fria / dentro do meu coração!.”
11.”Deve chamar-se tristeza / isto que não sei que seja / que me inquieta sem surpresa / saudade que não deseja.”
12.”Quem quer dizer o que sente / não sabe o que há de dizer. / fala: parece que mente… / cala: parece esquecer…”
13.”Por muito que pense e pense / no que nunca me disseste, / teu silêncio não convence. / Faltaste quando vieste.”
14.”Compreender um ao outro / é um jogo complicado, / pois quem engana não sabe / se não estava enganado.”
15.”Fiz de mim o que não soube, / e o que podia fazer de mim não o fiz. /  O dominó que vesti era errado. / conheceram-me logo por quem não era / e não desmenti, e perdi-me.”
16.”Meu coração triste, / meu coração ermo, / tornado a substância / dispersa e negada / do vento sem forma, / da noite sem termo, / do abismo e do nada.”
17.”Basta pensar em sentir / para sentir sem pensar. / Meu coração faz sorrir / meu coração a chorar. / Depois de parar de andar, / depois de ficar e ir, / hei de ser quem vai chegar / para ser quem vai partir.”
18.”Tudo quanto penso, tudo quanto sou é um deserto imenso, onde nem eu estou. Extensão parada sem nada a estar ali, areia peneirada vou dar-lhe a ferroada da vida que vivi.”
19.”Uma vez amei, julguei / que me amariam, mas / não fui amado. Não fui / amado pela única / grande razão – porque / não tinha que ser.”
20.”Uma maior solidão / lentamente se aproxima / do meu triste coração. / enevoa-se-me o ser / como um olhar a cegar, / a cegar a escurecer. / jazo-me sem nexo, ou fim… / tanto nada quis de nada. / que hoje nado o quer de mim.”
21.”O que me dói não é o que há no coração / mas essas coisas lindas que nunca existirão… / são as formas sem forma que passam / sem que a dor as possa conhecer ou as sonhar o amor. / São como se a tristeza fosse árvore e, uma a uma, / caíssem suas folhas entre o vestígio e a bruma.”

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