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A Siena 

[Lais Castro – 7.11.2004]                                      

 

Voy a contar una historia que sucedió conmigo hace algunos años, quando viví un pequeño periodo en Italia, estudiando la lengua italiana.

Bueno, llegué a Siena en un domingo de sol del mes de Agosto. Era el último día del Palio, una fiesta medieval que ocurre en la ciudad. Llegué a la estación como una hora por la tarde y el señor que me había alquilado el apartamento donde yo iba a vivir fue a cogerme en la estación y dejóme en mi casa. El apartamento esta ubicado en un barrio un poco lejos del centro de la ciudad. Después que el señor se fue, yo arreglé un poco mis cosas pero hacía un día tan bonito que pensé conmigo misma: “no puedo quedarme en casa con un día así”. Además, yo tenía hambre y no había nada para comer. Entonces, salí por la calle, pero no sabía la dirección del centro y no había nadie a quién preguntar.  Caminé un poco por otras calles, estaba todo completamente deserto. Me quedé un poco en un sitio esperando que alguien apareciera. Por fin, observé un señor que salía de un predio y corrí hasta él, que me indicó la dirección a seguir. Dijo que era lejos, tal vez una media hora a pie. Le agradecí y seguí… en busca del desconocido. En fin, avisté las murallas que circundan el centro antiguo y luego me adentraba por un portón que iba a dar en una graciosa calle llena de restaurantes y de gente. Yo sentíame feliz de estar allí. Entonces, elegí un restaurante, pedí vino y una pasta y divertíme mirando las personas que por allí pasaban. Después de comer, seguí paseando por las encantadoras calles que más parecían un labirinto hasta que me vi en plena Plaza del Campo, el sitio donde acontecía la festa del Palio. Había tanta, tanta gente, que, de una cierta forma, hasta parecía el carnaval en Olinda. Fui quedando, a mirar el desfile de las “Contradas”, los aficionados de cada uno de los caballos que íban a correr, un desfile solamente de hombres, en trajes medievales. ¡Una locura!

Cuando percebí eran casi diez horas de la noche y entonces descobrí que no había más autobús para volver a mi casa. Aún no había taxis. Por fin, cogí un autobus que, segundo el conductor, iba hasta cerca de mi dirección. El autobús estaba lleno de personas. La gente fue bajando, bajando… Al fin, estamos solamente el conductor e yo después de una parada en una plaza que era el ponto de retorno. Empecé a preocuparme un poco y en mi parco italiano dije al conductor que aquel era mi primero día en Siena y que no conocia nada. Él , un joven delgado, me preguntó mi dirección y dijo que yo me quedase tranquila  y que él me llevaría hasta mi casa con el autobús, que aquel era su ultimo viaje del día y que no habría ningún problema. ¡Yo no creía en el que estaba sucediendo conmigo! Entonces salimos nos dos en el autobús, aquela altura para mi muy grande, en cuanto yo miraba los edificios pensando tal vez en reconocer el mio. Entonces, pedí al conductor que parase un momento y le dice: “penso ser este mi edificio, voy a mirar el numero”. Era! Empecé a reír, le dije muchas gracias, bajé del autobús y entré en casa, en cuanto pensaba conmigo misma que yo era una persona de mucha suerte. Dormí muy bien!

¡Este fue mi primer día a Siena!

 

P.S.: Bueno, en verdad, aquela plaza donde bajaran todas las personas y que era el ponto de retorno del autobús era aún mi parada. Descobrí eso en la mañana siguiente cuando cogí el autobús para ir a la escuela. Lo que se pasó fue que cuando hablé mi direción – Av. Belriguardo …- el conductor entendió que yo vivía en el barrio Belriguardo que era más lejos y así… dió en el que dió.

A hora da tristeza

RUBEM ALVES

Passado o espanto, veio a indignação. Raiva. Sem nada poder fazer com a raiva, a alma se dá conta de sua impotência e chora

O meu celular tocou. Era o meu filho Sérgio. "Pai, estou a caminho de Atibaia. Antes da cidade há um mastro alto com uma enorme bandeira do Brasil. A bandeira está murcha, caída, enrolada no mastro. Tive a impressão de que ela estava enrolada no mastro para esconder a vergonha. Agora só se fala sobre essa vergonheira da corrupção. Mas há tantas coisas bonitas acontecendo. Parece que ninguém vê. Ninguém fala nelas. Será que você pode fazer alguma coisa?"
Não havia raiva na sua voz. Era apenas tristeza.

O que posso fazer é coisa fraca -escrever. Disso sabia o Vinícius, que disse ter uma "imensa piedade da sua inútil poesia"…
A primeira reação do país foi o espanto. O espanto faz o pensamento parar. O susto toma conta de tudo. O que estava acontecendo era o inimaginável. Passado o espanto inicial, veio a indignação. Raiva. Como se, de repente, descobríssemos que a esposa pura (e como se gabava da sua pureza!) era uma prostituta. A imagem é bruta? Tirei-a do Antigo Testamento, do livro do profeta Oséias.
Mas a voz do meu filho sugeriu que a alma do povo estava entrando em um outro momento. Sem nada poder fazer com a raiva, a alma se dá conta da sua impotência e começa a chorar.
Choramos… D. Miguel de Unamuno, filósofo espanhol que Guimarães Rosa muito amava, disse que "o que existe de mais sagrado num templo é o fato de ser o lugar aonde se vai chorar em comum. Um Miserere cantado em coro por uma multidão açoitada pelo destino vale tanto quanto uma filosofia". Creio que ele me permitiria uma inversão. Eu diria: "Um lugar aonde se vai chorar em comum, qualquer que seja, transforma-se em um templo". Em que templo enorme se transformou o Brasil! Só nos falta um poeta que nos componha um Miserere para cantarmos!
Até agora, as sucessivas safadagens que vieram ao conhecimento público envolvendo políticos e empresas só provocaram indignação e raiva. A indignação e a raiva tornam-nos guerreiros. O guerreiro deseja a vingança. Mas, quando a indignação e a raiva se descobrem impotentes, deixamos de ser guerreiros e nos tornamos pranteadores.
Nossa alma estava melhor nos anos de ditadura. Computados os seus horrores de torturas e assassinatos, brilhava em nós "essa pequenina luz indecifrável a que às vezes os poetas tomam por esperança". (Vinícius). Por causa da esperança, os poetas cantavam canções que do terror faziam brotar a beleza: "Apesar de você, amanhã há de ser novo dia"… Havia beleza e, por isso, a alma cantava. Mas agora já não há beleza. A alma não canta mais.
Desisti de acompanhar os noticiários. Eles não me ajudam em nada. Só fazem aumentar a consciência da extensão das metástases.
Parece existir um acordo: a corrupção não é a coisa. A corrupção é apenas um sintoma da coisa, pústulas fétidas de uma doença que circula no sangue, como se fosse varíola. Varíola não se cura raspando-se as pústulas. É preciso ir ao sangue, que é o lugar donde as pústulas nascem. Isso só com uma reforma das leis que regem o jogo da política.
Concordo. Mas não sei quem fará essa mudança. Não acredito que lobos e raposas sejam capazes de abandonar sua dieta carnívora e aprovar uma dieta vegetariana. O profeta duvidava e perguntava: "Pode o tigre mudar suas listras?". Mas a sua pergunta já continha a resposta: o tigre não pode mudar suas listras… Pessoalmente, duvido de que o Congresso Nacional seja capaz de fazer a reforma de que necessitamos.
Eu acreditaria, sim, se a lei da dita reforma começasse com essa afirmação: "Nós, senadores e deputados, representantes do povo, portadores do seu sofrimento e de suas esperanças, por este ato declaramos abrir mão de todos os privilégios que nos colocam acima do povo. De hoje em diante, as leis que determinam os nossos direitos serão as mesmas leis que determinam os direitos de todos os cidadãos, os mais humildes. Declaramos, portanto, abolidas todas as leis que nos colocam acima do povo. Estamos proibidos de legislar em causa própria. Jamais votaremos os nossos salários porque o povo não pode votar os seus próprios salários".
O que faz um povo? Santo Agostinho dizia que um povo acontece quando as pessoas se unem em torno de um mesmo sonho. É preciso devolver ao povo a capacidade de sonhar, para que ele volte a ser povo. Mas, para que isso aconteça, é preciso que o povo tenha confiança nos representantes que elegeram. Mais do que isso: que se orgulhem deles.
Faço minhas as palavras de Unamuno: "Pelo que me diz respeito, jamais de bom grado me entregarei nem outorgarei a minha confiança a um condutor de povos que não esteja penetrado da idéia de que, ao conduzir um povo, conduz homens, homens de carne e osso, homens que nascem, sofrem e, ainda que não queiram morrer, morrem; homens que são fins em si mesmos e não meios"…
Não sei fiz o que meu filho pediu. Fiz o melhor que pude fazer com a minha inútil poesia…

Rubem Alves, 71, psicanalista e escritor, é professor emérito da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e colunista do caderno Sinapse. Autor de, entre outras obras, "A Escola com que Sempre Sonhei sem Imaginar que Pudesse Existir" (Papirus, 2001).

http://www.rubemalves.com.br

Ensaio: Roberto Pompeu de Toledo
Anedota de brasileiro

O referendo das armas foi um exercício de
sair do nada para chegar a lugar nenhum

Os brasileiros foram convocados a participar, neste domingo, 23 de outubro de 2005, de uma consulta popular sobre coisa nenhuma. Trata-se de algo possivelmente inédito no mundo. Discutiram-se durante semanas, com paixão, questões já previamente resolvidas. Tomaram-se partidos que não vinham ao caso. Ninguém, em posição de fazê-lo, se dignou a esclarecer o fato singelo de que o que estava em jogo era nada. A pergunta a que os brasileiros foram intimados a responder, "Deve o comércio de armas ser proibido?", chocava-se contra um obstáculo lógico: o comércio de armas não pode ser proibido. Ele estava garantido pela própria lei que determinou o referendo.

Para quem não está entendendo, voltemos aos pontos de partida desta história. No dia 22 de dezembro de 2003, foi sancionada pelo presidente Lula a Lei nº 10 826, apelidada de Estatuto do Desarmamento. Esse texto, regulamentado pelo Decreto nº 5 123, de 1º de julho de 2004, determinou, ao cabo de longos e acirrados debates no Congresso, quem pode possuir ou portar armas, quando, onde e em que condições. O conjunto de disposições então adotado não desmerece o nome de Estatuto do Desarmamento. Dificultou, de modo considerável, a aquisição e o uso de armas de fogo no país, para quem quer fazê-lo pelos meios legais.

Eis um primeiro ponto a reter: foram essa lei e o decreto que a regulamentou, ambos aprovados e já em vigor, que determinaram quem pode possuir ou portar armas. O referendo nada tem a acrescentar ao assunto. Podem portar armas, isto é, levá-las consigo, integrantes de oito categorias diferentes de corporações, das Forças Armadas à Receita Federal, passando pelas polícias e as empresas privadas de segurança. Cidadão particular não pode. Podem possuí-las, desde que as mantenham em casa ou no trabalho, todos aqueles que comprovem "efetiva necessidade" disso, e desde que tenham no mínimo 25 anos, não apresentem antecedentes criminais e passem nos testes de "aptidão psicológica" e de "capacidade técnica para o manuseio de armas de fogo", entre outras exigências. Se tudo isso já está decidido, não caberia discutir, no quadro da campanha do referendo, como foi feito à exaustão, se os cidadãos devem ou não se armar, ou se isso ajuda ou atrapalha a defesa contra os criminosos. O Congresso já o decidiu por nós, como aliás é de sua obrigação – e decidiu, dadas as múltiplas exigências que estabeleceu para o cidadão comum ter acesso a armas, que elas são nocivas, tanto à segurança coletiva quanto à individual.

Ao eleitorado, acompanhada de boa dose de absurdo, foi deixada a incumbência de decidir sobre a inclusão, no Estatuto, da proibição do comércio de armas. Proibir a compra e venda, é isso? Mas como, se a lei faculta que toda uma gama de gente, dos integrantes das Forças Armadas ao cidadão que comprove "efetiva necessidade", as possua? Como podem possuir sem comprá-las? Na verdade, se a proibição do comércio fosse para valer, a vitória do SIM significaria a revogação de todo o restante da lei. Ficariam prejudicados os numerosos artigos que cuidam de quem pode ter armas, e em que condições. Se não se pode comprar, de que adianta contar com a permissão para ter? A menos que o governo desejasse, deliberadamente, jogar uma parte da população no mercado negro. A loucura não chegou a tanto. A realidade singela é que não há como proibir, pura e simplesmente, a compra e venda de armas, o que significa dizer que, mesmo com a vitória do SIM, as pessoas autorizadas a possuí-las, inclusive o cidadão avulso tomado da tal "efetiva necessidade", continuarão podendo comprá-las. Em direito vige o princípio de que quem pode o mais pode o menos. Quem pode ter armas claro que pode comprá-las. E quem pode comprá-las claro que pode também comprar munição para alimentá-las.

Para que serve então o referendo? Vá lá, façamos um desconto: não é que ele seja completamente sobre coisa nenhuma. Mas também não é sobre o que o eleitorado foi induzido a pensar. O que está em jogo é o modo como serão comercializadas as armas. Se devem ser mantidas as atuais lojas ou se deve ser instituído um novo sistema de vendas. Essa é a única e escassa questão. Vencendo o NÃO, continuam em operação as lojas atualmente existentes. Vencendo o SIM, abre-se um leque de opções, para futura deliberação. A primeira é a manutenção das lojas, reestruturadas. A segunda é a venda em departamento do Exército ou da Polícia Federal. A terceira é a compra direto das fábricas. A pergunta certa, para que o referendo chegasse com clareza ao eleitorado, deveria girar em torno da botica da preferência do freguês, mas lá isso é coisa que se pergunte ao pobre do eleitor? Abusou-se da paciência do coitado. Levaram-no a pensar no assunto à toa. Para piorar, fizeram-no enfrentar fila e perder a praia. E produziu-se, com um referendo que parte do nada para chegar a lugar nenhum, mais uma anedota de brasileiro. "Sabe da última?", perguntarão, pelo mundo. E então rirão muito, rirão de sacudir a barriga e de sair lágrima dos olhos.

 

Quanto mais difícil, mais gostoso…
:: Rosana Braga ::

Será? Lembro-me bem, quando adolescente, de ter ouvido inúmeras vezes que “moça direita não é fácil”. Tinha de ser difícil, porque somente assim os homens dariam valor.

Também não foram poucas as vezes em que me peguei com a dúvida cruel: o que é ser difícil? Tenho de fingir que não quero, mesmo quando quiser? Tenho de fingir que não gosto, mesmo quando gostar? E se for assim, quando devo parar de fingir?

Resumindo, decidi que não ia querer nem gostar, assim ficava mais fácil “ser difícil”. Claro que minha decisão não durou muito tempo. Aliás, felizmente que não… Mas daí, outra dúvida ainda maior me abraçou: e agora, como deve ser meu comportamento de “moça direita que quer e – pior! – demonstra que quer”???

Passei a entender, com o tempo, que esta dinâmica é muito parecida com a dos contos de fadas. A princesa não precisa fingir porque a pouca sorte de seu destino se encarrega de afastá-la do príncipe até o final da história.

Somente quando está quase acabando, eles conseguem ficar juntos. Mas imediatamente depois deste belíssimo e extasiante encontro, vêm a vaga promessa e as irritantes reticências “e foram felizes para sempre…”. Mas como? Como construíram esta felicidade? O que fizeram? Como se comportaram? Ela foi fácil? Foi difícil? Fingiu? Até quando?

Será que contaram a você? A mim não contaram… Tive de descobrir sozinha, vivendo, tentando, começando e terminando, e ficando com a sensação de inadequação, caretice ou até mesmo de ter sido “fácil” sem saber se fiz certo ou errado…

Até que a adolescência acabou e chegou a adultidade (palavrinha esquisita, bem apropriada ao que quero dizer…). “Ufa, agora sim vou saber direitinho o que fazer”, pensei inocentemente. Nunca soube. A dúvida sempre parece me rondar: ser fácil ou ser difícil? Dizer que não quero quando quero ou dizer que quero e pronto, deixar rolar…???

Exageros à parte, é verdade que hoje em dia se perde muito do encanto que pode haver nos encontros por conta desta neurose que toma conta do nosso ritmo interno. Tudo tem de ser agora. Fast food, fast service, fast love…

Então, penso que o ideal seria nem 8 nem 80. Nem o “já”, nem o “fingimento”. Entretanto, se agora não precisamos mais seguir um script sem sentido de “moça direita”, parece que ainda fica lá no fundo uma busca pelo difícil, pelo complicado, pelas relações que não fluem. Pessoas confusas, que querem, mas não querem, que dizem sim, mas fazem não, que não ficam mas também não vão…

E assim, perdidos entre o ‘fácil que não tem graça’ e o ‘difícil que não preenche’, ficamos nós, parecendo personagens de filme de comédia. Um corre atrás, o outro foge. Um foge, o outro corre atrás. Ele, tarado. Ela, frígida. Ele psicopata. Ela dependente. Quando, na verdade, bastaria que nos permitíssemos aquilo que desejamos, tão somente o que desejamos de verdade, e deixássemos rolar.

Sem essa de que “tudo o que é mais difícil é mais gostoso”. Isso é coisa de gente maluca!!! Por que não podemos valorizar o amor que flui naturalmente, que vai se mostrando descomplicado, disponível, comprometido? Por que parece que temos de optar sempre pela dor, pelo conflito, pelo drama que mais nos endurece do que nos amadurece?

Sugiro que apostemos mais no fácil; não porque sejamos incapazes de lidar com as dificuldades. Simplesmente porque certas dificuldades são mesmo inevitáveis. Porém, outras, especialmente aquelas referentes ao coração – que quase sempre são criadas por nós mesmos – são absolutamente evitáveis. Então, que nos permitamos desfrutar de um amor que acontece… e que abandonemos, enfim, essa teimosa mania de querer exatamente aquilo que a gente não pode ter.

Rosana Braga é Escritora, Jornalista e Consultora em Relacionamentos Palestrante e Autora dos livros "Alma Gêmea – Segredos de um Encontro" e "Amor – sem regras para viver", entre outros.
www.rosanabraga.com.br e Comunidade no Orkut
Email: rosanabraga@rosanabraga.com.br

A arte de gostar de mulher   
Ainda nos meus tempos de graduação em jornalismo na      Uerj, fui assistir a uma palestra do fotógrafo André Arruda, que foi do JB, Globo e trabalhava, entre outras coisas, com moda. Em determinado momento da palestra ele relatava a sua experiência em fotografar nu artístico e soltou a              seguinte frase: "para fotografar nu feminino é preciso         gostar de mulher". Eu sorri, porque na minha cabeça aquilo parecia meio óbvio, mas antes que qualquer um fizesse algum comentário ele completou.

– Não se trata de gostar de mulher no sentido sexual, ter tesão por mulher nua, essas coisas. Isso pode ter também. Mas se trata de gostar de mulher em um sentido mais profundo. Gostar do universo feminino. Observar que cada calcinha é única, tem uma rendinha diferente e ficar entretido com isso – afirmou.

O fato é que eu concordo com o conceito do Arruda sobre gostar de mulher. Não basta ser heterossexual, o machão latino. Para gostar de verdade de uma mulher são necessários outros requisitos que são raros. Por isso a mulherada anda tão insatisfeita.

Sensibilidade é fundamental. Paciência também. O homem que não tem paciência para escutar a necessidade que a mulher tem de falar, ou sensibilidade para cativá-la a cada dia, não gosta de mulher. Pode gostar de sexo com mulher. O que é bem diferente.

Gostar de mulher é algo além, é penetrar em seu universo, se deliciar com o modo com que ela conta o lhe aconteceu no seu dia, quando chega do trabalho. Ficar admirando seu corpo, ser um verdadeiro devoto do corpo feminino, as curvas, o cabelo, seios. Mas também cultuar a sagacidade feminina, sua intuição, admirar seu sorriso que é muito mais espontâneo que o nosso.

Gostar de mulher é querer fazer a mulher feliz. Enviar flores para o seu trabalho sem nenhum motivo a não ser o de mais tarde, ver seu sorriso; é de madrugada, quando por qualquer motivo os dois acordam, dizer "eu te amo".

O homem que gosta de mulher não está preocupado em quantas mulheres ele "comeu" durante a vida, mas sim com a qualidade do sexo que teve. Quantas mulheres ele realizou sexualmente, fazendo-as se sentirem desejadas, amadas, únicas, deusas, leves e indeléveis, na cama e na vida.

O homem que gosta de mulher, não come mulher. Ele penetra não só no corpo, mas na alma, respirando, sentindo, amando cada pedacinho do corpo e, é claro, da personalidade.

"Para viver um grande amor é necessário ser de sua dama por inteiro", afirmou Vinícius de Morais no poema…Para viver um grande amor. Para amar verdadeiramente uma mulher o homem deve ser totalmente fiel, amá-la até a raiz dos cabelos. Admirá-la, se deixar apaixonar todo dia pelo seu sorriso ao despertar e principalmente conquistá-la, seduzi-la, como se fosse a primeira vez. O homem que não tem paciência, nem tesão, nem competência para lhe seduzir várias e várias vezes, esse, minha amiga, não se iluda, não gosta nem um pouco de mulher.

Conquistar o corpo e a alma de uma mulher, é algo tão gratificante que tem que ser tentado várias vezes. Só que alguns homens, os que não gostam de mulher, querem conquistar várias mulheres. Os que gostamos de mulher é que conquistamos várias vezes a mesma mulher. E isso nos gratifica, nos fortalece e nos dá uma nova dimensão. A dimensão da poesia, da atenção, do cuidado, do amor e em última instância, do impenetrável universo feminino. Mas atenção amigos que gostam de mulher: gostar de mulher e penetrar em seu universo não é torná-las cativas, e sim, deixá-las livres, admirá-las em sua insuperável liberdade.

Uma das músicas com que mais me identifico, é uma em inglês – por incrível que pareça, para um nacionalista e anti-imperialista convicto. É a Have you really loved a woman? do cantor Bryan Adams.
A música foi tema do filme Don Juan de Marco, e em uma tradução livre quer dizer "você já amou realmente uma mulher?". Em toda a música o cantor fala sobre a necessidade de se conhecer os pensamentos femininos, sonhos, dar-lhe apoio, para amar realmente uma mulher. Essa música é perfeita. Como se vê, gostar de comer mulher é fácil. Agora, gostar de mulher é dificílimo.
Além da sensibilidade, intuição e percepção, precisa ser macho de verdade para isso. Quem se habilita?

Rafael Martí é jornalista e gosta muito de mulher, mas só tem olhos para sua morena linda.

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