You are currently browsing the monthly archive for abril 2008.

METADE

Oswaldo Montenegro
 
E que a força do medo que tenho
não me impeça de ver o que sei.
 
Que a morte de tudo que acredito
não me tape os ouvidos e a boca,
porque metade de mim é o que eu grito
mas a outra metade é silêncio.
 
Que a música que eu ouço ao longe seja linda
ainda que tristeza
 
Que a mulher que eu amo seja para sempre amada,
mesmo que distante,
porque metade de mim é partida
e a outra metade é saudade
 
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas
como prece, nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas, como a úncia coisa que resta
a um homem inundado de sentimento…
porque metade de mim é o que eu ouço,
mas a outra metade é o que calo
 
Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz que eu mereço
 
Que essa tensão que me corrói por dentro
seja um dia recompensada,
porque metade de mim é o que eu penso
e a outra metade é um vulcão
 
Que o medo da solidão se afaste,
que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável
 
Que o espelho ao refletir meu rosto
um doce sorriso que me lembra a verdade da face
porque metade de mim é a lembrança do que foi,
a outra metade, eu não sei
 
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
 
E que o teu silêncio me fale cada vez mais,
porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço
 
Que a arte aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba
e que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
pra fazê-la florescer
porque metade de mim é a platéia
e a outra metade é canção
 
E que a minha loucura seja perdoada,
porque metade de mim é amor,
e a outra metade… também.

 

Categorias